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O corpo e a suas dores, a perspetiva da psicoterapia corporal

“Não sei o que se passa, não fiz nada fisicamente que me leve a estas dores nos ombros” assim começou a descrever-se a Maria (nome fictício), de 40 anos, que ocupa um cargo de chefia numa empresa, que “apesar da exigência”, se sente feliz: “Ainda posso progredir mais na carreira…”

Em muitos momentos, o corpo revela o que a mente não quer ‘escutar’. O corpo revela traumas passados e dificuldades do presente, sentimentos expressos e sentimentos ocultos.

Conversando com Maria, fomos desvendando a origem do desconforto nos ombros e nas omoplatas. Era preciso prender a respiração para conter os sentimentos de desconforto e de ‘peso’ sentidos no ambiente de trabalho.

E é tão simples assim, o corpo a falar, a reclamar por atenção, expressando emoções e sentimentos que queremos esconder ou que não damos importância para que possam ser mais ‘leves’ ou mais aceitáveis.

O corpo tem acesso direto ao sistema nervoso, e existe uma reciprocidade de transmissão de informação constante, do corpo para o cérebro e vice-versa. Por isso é tão fácil para o corpo expressar-se desta forma.

Sentados, à frente com aquela pessoa que verbaliza a sua vida, o psicoterapeuta corporal olha, escuta, sente… Olha um ‘todo’ incluindo as partes – verbais e não verbais – da mais subtil à mais audaz. Sentimentos não expressos ou ignorados vivenciam-se, expressam-se em desconforto no corpo à espera de encontrarem uma saída para serem escutados, para que lhes sejam atribuídos significados e para que sejam também esses sentimentos ressignificados.

O corpo é a materialização da nossa presença no mundo, da nossa existência, mas nem sempre estamos conscientes dele. Delegamos na mente o poder da nossa existência, mas é necessário escutar esta unidade funcional corpo-mente. Por mais ausente que o corpo pareça estar, ele continua sempre a dar sinais da sua presença e da sua vida emocional.

No caso de ‘Maria’ o orgulho fez o seu tórax ficar expandido, mas o medo em não conseguir atingir os objetivos, contraiu-lhe os ombros. Este orgulho e medo sentidos no presente podem situar-se no seu contacto com o seu mundo exterior (neste caso o seu local de trabalho), no entanto ativa na Maria as suas memórias inconscientes do passado.

Os sentimentos são experiências mentais; e a Maria estava a atribuir significado ao momento atual, atribuindo assim sentimentos à experiência que estava a ter no seu local de trabalho, movidos por experiências anteriores na sua existência.

Recuperar o livre impulso do corpo e a expressão do fluxo de vida ressignificando o conteúdo da experiência do presente permite alteração no padrão habitual de interação.

Maria e a intervenção clínica: “agora percebo que exigi demais de mim… não posso voltar a ter cá o meu pai” (o pai de Maria morreu quando ela tinha 5 anos). O insight surgiu no decorrer da utilização da técnica de alteração de postura.

Prazer, alegria e segurança ou tensões, dores e doenças, são manifestações de uma vida emocional representada no corpo de cada um. Por tudo isto a psicoterapia corporal configura-se hoje como uma abordagem de intervenção da nova geração, facilitando a expressão emocional, consciente e inconsciente, numa intervenção integrativa e com resultados bastante satisfatórios.